sábado, 8 de junho de 2013

A carta que eu escrevi, e a ti nunca enviei

Talvez por medo, covardia, receio da tua resposta, eu não fiz mais do que escrevê-la e guarda-la no fundo de um baú, junto de tantas coisas velhas, e sem importância. Mas essa carta tem, e terá, pois foi ali, aos prantos, que eu desenhava cada letra, cada palavra, que estavam enterradas dentro de minh´alma. Nesta carta que juntei toda a coragem que detinha dentro de meu coração, lá no fundo e transmiti a este pedaço de papel por meio de minha mão.
Tu há essa hora, estas vivendo a sua vida, mas habitando meu pensamento, sendo você, a única habitante de meu pequeno mundo, onde mesmo que fantasiosamente, vivo feliz.
Um dia, quem sabe, eu tenha coragem de a ti reportar este pedaço de papel, cheio de minhas, não tão belas, mas sinceras palavras.
Ou talvez continue com ela guardada, a sete chaves, como este sentimento, e que nunca tive a audácia de olhar no fundo de teus negros olhos e dizer:- Eu te amo!
Sim, isso é covardia de minha parte, mas quem em algum momento de sua vida não foi covarde? Nosso lado humano nos faz assim, mesmo que seja algo que nos consuma por dentro. Então é como uma represa, que está quase está estourando, transbordando, e por milímetros, não se rompe.
Penso em me declarar, mas a sombra do medo cobre o Sol da coragem.
Guardo esta carta que nunca te entreguei, eu covarde, como uma criança com medo do escuro, dos fantasmas da noite, e me calo.
Retiro meus óculos, e lhe ponho em cima da escrivaninha. Tampo a caneta, repouso num pequeno baú de madeira a carta, e o chaveio, neste pequeno e velho baú, pois não quero que ninguém a leia. Decido apagar a luz, não irei mais escrever nada, depois de pensar em tudo isso. A negritude da noite vem aos poucos adentrando pela janela de meu quarto, já que nem a bela Lua está hoje no céu.
Debruço-me no parapeito da janela, lhe abro e ponho minha cabeça para fora. Um gélido ar beija meu rosto, e olho o horizonte, d´onde lá em seus confins o Sol, já vai se pondo, deixando apenas um rastro de seda alaranjada, por entre as poucas nuvens que enfeitam o céu, já nos últimos momentos de claridade dele. É fim de outono, logo virá o inverno, com seus dias de mazelas, frios e chuvosos, que sem a sua presença, se tornam cada vez mais amargos.
Espero que na próxima primavera, voltes e que seja como o Sol resplandecente depois de uma longa tempestade.
Parece que no céu, posso criar sua bela e divina imagem, como uma belíssima pintura da época do Renascimento. Logo percebo que estou sorrindo, olhando para o nada.
Ponho meu corpo para dentro de casa, fecho a janela, e cerro a cortina, e assim a escuridão noturna toma conta de meu quarto. Lágrimas de dor inundam meus olhos, e descem pelas maçãs de meu rosto, e caem no tecido de minha roupa, que logo as absorvem.
Sinto que minhas pernas fraquejam, e busco sentar-me na cadeira de minha escrivaninha, onde também aos prantos, escrevi a carta.
Recupero minha força, levanto-me e me dirijo em direção a minha cama, sendo esta de casal, mas que mesmo assim ainda é somente por mim ocupada.
Deito-me e me cubro com a coberta, e encolho-me de frio. Ponho minhas mãos junto de minha boca, onde sinto o calor de minha respiração.
Fico imaginando o que fazes a esta hora, no que pensas, e assim de tanto pensar adormeço. Adormeço e tu, apenas tu habitas meu sonho. Você, em sua casa também dorme seu sono de anjo, e comigo não sonha.

Amanhã, quem sabe, eu vista a armadura da coragem, chegue a sua frente e em suas mãos, ponha esta carta, que escrevi, revelando-te tudo o que sinto. Todo meu amor por ti...

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