domingo, 15 de dezembro de 2013

Diário de Manuela 02.

Pelotas, 12 de agosto de 1854.
Agora é tarde.
Mas tarde para que? Para viver? Para sair por ai? Para deixar aquela lágrima carregada de dor, cair sobre a maçã do meu rosto?
Nunca é tão tarde para fazermos as coisas acontecerem.
Desde que aquele olhar guapo se desfez de minha frente, não vejo beleza alguma nas coisas. Fui abraçada pelo manto da infelicidade.
O céu azul que aquele guapo homem trazia consigo aos dias meus, foi desfeito, e em seu lugar surgiu um céu negro, carregado com pesadas nuvens, que choram assim como os olhos meus.
Tornei-me a mais sentimental e sensível de todas as mulheres, que pode partilhar de todos, o seus sofreres.
Tão moça e tão frágil. Eu, que sempre quis manter a figura de uma moça forte e culta, que lê poemas e romances, gosta de ouvir as histórias contadas pelos mais velhos e que sempre tive opinião própria, quando me vi diante daquele corsário italiano, descobri que toda aquela cultura adquirida não era nada.
Aos poucos, aquele tempo ao lado de Giuseppe, vão ficando para trás, como a parte mais bela e sublime de minha vida. Algo sobrenatural, fictício de tão maravilhosos que foi. Como uma dessas histórias que leio nos livros, daqueles romances que emocionam as pessoas que os leem.
Mas ele se foi. Era seu destino. Eu só serei uma lembrança do Continente, que talvez ele leve pro resto da vida. A mim, ele significou tudo. Um rastro de luz no céu, a gota d’água no deserto.
Guardo dentro de mim aqueles momentos, que por mais que eu chore, não voltam mais.
Fico por ai, pelos cantos desta casa, relembrando o tempo que morava no campo. O tempo que morte rondava os homens da minha família e até mesmo Garibaldi. Rezava ardorosamente, de joelhos em frente ao altar, no Oratório da estância de tia Ana Joaquina, pedindo proteção aos homens de minha família, mas pedia mais fortemente, pela vida do corsário. Era o que cabia a nós mulheres. As mais velhas, rezavam, cuidavam dos jovens, cuidavam de quase tudo. Nós as moças, ajudávamos no que podíamos, rezávamos, nos preparávamos para que quando a guerra terminasse, e os nossos prometidos voltassem, nos cassássemos e cumpríssemos nossos papéis. Não a mim.
Ainda hoje rezo por Garibaldi, onde quer que ele esteja, peleando, seja por mar ou por terra, sempre será o maior motivo de todos os meus pensamentos elevados á Deus.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Libertar-se de si mesma.


Cortou-se no intuito de sanar sua dor.
Escorreram gotas de sangue quente, como pétalas de vermelha rosa
Despencadas com calor.

Sopro gelado d’alma
Vinha beijar seus lábios
Roubando-lhe o último suspiro de calma
De um sonho nunca vivido, nem da velha música jamais cantada.
De seu castelo de cartas,
Que o vento intempestivo, num sopro cruel desmanchou,
Só restou sua tristeza amontoada.

Vagueando pelos céus na madrugada fria e solitária
Buscando a luz da manhã
Com sua avidez totalitária
A fim de emanar sua luz interior
Liberta-se de suas trevas

Ateias e pagãs.

Pinheiro, Erasmo.
1° distrito de Piratini, 10 de dezembro de 2013.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Diário de Manuela, 01.

Pelotas, 23 de setembro de 1902.

Hoje está um lindo dia. Um dia onde o cantar dos pássaros, faz morada nas luzes imanadas pelos raios do Sol. Ah suave canto.
Hoje, tudo foi como sempre foi, ocorrendo da maneira mais natural possível, a mim.
Um pensamento me assaltou pela manhã, pouca antes de levantar-me da cama. Um desses pensamentos que surgem do nada e vai se desenrolando pelo infinito da minha mente velha e cansada.  Fui, e sou uma completa louca, como atestam os meninos que passam por aqui, todas as manhãs. Sim uma louca! Ninguém em pleno gozo de suas faculdades mentais espera quase 60 anos por um homem que sabe que já morto, seria impossível de retornar aos seus braços.  Canso-me de repetir para mim mesma que aquele romance já passou. Porém, há algo dentro de mim, como uma chama que teima em continuar acessa, não me deixa pensar em desistir. Mas desistir do quê?
A vida, para mim não seguiu seu curso normal. Não culpa da própria vida, mas minha, só minha.
Sempre cultivei dentro de mim essa esperança, de que um dia ele voltaria para os meus braços, e sorriria e sua doce voz diária: Eu voltei Manuela! Com o passar do tempo, sua imagem, sua voz, foram sendo encobertas por a cerração do tempo. Todas as noites, quando fechava os olhos, eu os exprimia, para que de certa forma, conseguisse segurar dentro de mim aquelas lembranças.  Os anos foram passando e a sua imagem ia se distanciado como um trem num túnel, indo de modo reverso, sumindo para nem eu sei onde. 
E assim eu passo os meus dias, esperando que a morte me leve daqui. Lembrando-me dessas coisas, que me fizeram um dia, sentir-me viva.  Hoje em dia, nem vivo mais. Apenas existo. 

Às vezes me representa que as pessoas pensam o mesmo, que á muito estou morta. Se eu fosse parar e analisar, já faz cinco anos que ninguém vem me visitar. A última viva alma que entrou aqui perguntando por mim, foi um neto de Mariana, depois disso, nunca mais voltou. Trouxe-me notícias dos últimos parentes vivos que ainda moram por Camaquã. Como eu não tinha muito assunto, o rapaz logo se foi. A quem interessaria essas minhas histórias sovadas pelo tempo?  Contar a quem os causos da Revolução, das façanhas de Bento, e Garibaldi? Já quem ninguém se interessa, conto ao meu diário, meu velho companheiro de longa data. Ele nunca se cansará de me escutar, e nem eu, de á ele confidenciar tudo...

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Nessa Estrada

Coçam-me os dedos
Em sinal de vontade
De transmitir ao papel, todos os meus segredos
Anseios, aflições, alegrias, e
Até mesmo meus medos.

Guardados entre os espinhos afiados
Tão longínquos quanto as massas do horizonte.
Vez que outra, veem-se desafiados
Pelo breu da noite.

Seguindo por tortuosa linha,
Vou indo,
Nessa estrada, que definha
Instante após instante...
Sem fim, muito menos começo,
Essa história, assim, tão simples
É tudo que lhe ofereço...

Pinheiro, Erasmo.

Piratini, 26 de novembro de 2013.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Último Romance.

Sabe aquela música que você ouve e ela é sua situação cantada? Pois no meu caso, é a música “Último Romance”, do Los Hermanos. Ela é uma das poucas músicas que me tocam de uma maneira que a voz de Marcelo Camelo, o intérprete, me soa tão bem aos ouvidos.
“Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Ah, vai
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia, eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê, deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver, eu penso em trocar
A minha TV, num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir aonde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar

Ah, vai
Me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona
Pra te acompanhar”
A música tem esse poder de nos fazer feliz ou não, trazer de volta nossas lembranças.
Último Romance, em particular, foi uma música que eu sempre gostei desde que eu comecei a entender o que é uma música. Mas á mais ou menos um ano atrás eu soube que ela era minha “música tema”.
É algo difícil de explicar, mas eu amo essa música, por que quando eu a escuto, eu vejo minha situação como um clipe musical. Na parte “Eu encontrei e quis duvidar/ Tanto clichê, deve não ser”, eu me lembro de certo dia, em novembro de 2013, quando eu olhei pro lado e dei-me de conta de quem era que eu estava gostando.
Vão se as pessoas e ficam as músicas, as lembranças.

E se o tempo for te levar eu sigo essa hora e pego carona, pra te acompanhar...

sábado, 9 de novembro de 2013

Quando o homem morre.

"Meu amor é tão profano
Louco, louco de humano!"

Raios clareiam o céu
Manchado de rubro sangue.
Eu sigo riscando palavras num pedaço de papel
Travando ferrenhas batalhas
Entre o bem e o mal.

Perdido no infinito negrume da noite
Com apenas uma chama em mãos
Resquício de coragem
Enfrento de cabeça erguida este afronte.

Não é questão de sorte
E sim de jogo vencido
Pois o fim de uma vida nem sempre é a morte
Mas sim quando o homem deixa a luz de seu sonho apagar-se
Tal que isso ocorre,
Ele apenas existe

E sua essência morre...

Pinheiro, Erasmo.
Piratini, 09 de novembro de 2013.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Vida Continua...

Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.
-Oscar Wilde;


Mesmo que um dia, eu não te veja mais,
O vento continuará a soprar.
Mesmo que meus olhos não brilhem mais ao te ver,
O Sol continuará a brilhar.
Os pássaros continuarão a cantar.
Mesmo que eu nunca mais escute tua voz,
Mesmo que tua ausência se impor sobre meus dias,
Se não puder domar essa saudade feroz,
Viverei de pequenas alegrias.

Tentarei, mas nada prometo,
Viver e ser forte.
Mas,
Nunca, isto juro, te tirarei do pensamento.

Quando a saudade espremer meu peito,
Os olhos fecharei.
E tua imagem para mim sorrindo, contemplarei.
Amenizando assim, essa solidão,
Que insiste em rondar
Meu coração.

O duro é saber que quando me deixares,
A vida continuará.
Que talvez nunca mais se cruzarão nossos olhares.

A vida continua.
E tanto dói em mim.
Saber que depois de tua partida,
Dia após dia,

Será o meu fim.

Pinheiro, Erasmo.
Piratini, 15 de Outubro de 2013.

sábado, 12 de outubro de 2013

Genealogia.

P
Primeira Geração:
-Erasmo Bonotto Pinheiro Crespo: *02-05-1996, em Piratini, Rio Grande do Sul
Segunda Geração: Pais:
-Luiz Alberto Pinheiro Crespo: *05-10-1967, em Piratini.
-Neiva Terezinha Carvalho Bonotto Crespo: *11-03-1969, em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Terceira Geração: Avós:
-Silvio Luciano Duarte Crespo: *18-02-1937, em Piratini, morreu em 02-02-1989, em Piratini.
-Marina Pinheiro Crespo: *17-04-1943, em Piratini. Pias de Luiz Alberto.

-Honório Valentim Bonotto: *30-05-1940, em Santa Maria, morreu em 20-06-2008, em Santa Maria.
-Maria Lorena Carvalho Bonotto: *07-10-1948, em Formigueiro, Rio Grande do Sul, morreu em 14-06-2008, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Pais de Neiva Terezinha.
Quarta Geração: Bisavós:
-Olorival Crespo: *14-09-1894, em Piratini.
-Olília Duarte Crespo: *08-06-1898, morreu em 24-03-1968, em Piratini. Pais de Sílvio Luciano.

-Manoel Ignácio Pinheiro: *24-01-1900, em Piratini, morreu 1964, em Piratini.
-Edith Farias Pinheiro: *25-10-1916, em Piratini, morreu em 02-02-2000, em Piratini. Pais de Marina.

-Roberto Bonotto: *e morreu em Santa Maria.
-Brandina Druzian Bonotto: morreu em Santa Maria. Pais de Honório Valentim.

-Manuel Charão Carvalho: * e morreu em Santa Maria.
-Virgínea da Rosa Carvalho: * e morreu em Santa Maria. Pais de Maria Lorena.
Quinta Geração: Trisavós:
-Affonso Cassiano Crespo: *13-08-1859, morreu em 18-08-1936, em Piratini.
-Maria Augusta dos Santos Crespo: * Pelotas e morreu em 30-07-1948, em Piratini. Pais de Olorival.

-Baltazar Barbosa Duarte: morreu em 1940, em Piratini.
-Isabel Motta Duarte: morreu em 1949 em Piratini. Pais de Olília.



-João Ignácio Pinheiro: *01-08-1836, em Piratini, morreu em 1915 em Piratini.
-Ignez de Castro Ferreira Pinheiro: morreu em 1916 em Piratini. Pais de Manoel Ignácio.

-Adriano Eudóxio de Farias: *01-03-1894, em Piratini, morreu em Encruzilhada do Sul.
-Universina Elena de Oliveira Farias: *26-06-1901, morreu em Piratini. Pais de Edith.

-Pedro Bonotto: *01-08-1889, na Itália, morreu no Brasil.
-Cristina Zago Bonotto. Pais de Roberto.

-Fortunato Druzian.
-Josefina Correia Druzian. Pais de Brandina.
Sexta Geração: Tetravós:
-André Lucianno Crespo: *Montevidéu, no Uruguai, e morreu em 1901, em Piratini.
-Francisca da Conceição Crespo: *Piratini. Pais de Affonso Cassiano.

-Augusto Alves dos Santos.
-Joaquina Maria Carvalho dos Santos. Pais de Maria Augusta.

-Baltazar Barbosa Duarte.
-Joaquina Barbosa Duarte. Pais de Baltazar.

-Pedro Duarte.
-Lauriana Motta Duarte. Pais de Isabel.

-Graciano Ignácio Feliciano: *18-12-1803.
-Maria Francisca da Silva Pinheiro: *24-12-1825, em Piratini. Morreu em Pelotas. Pais de João Ignácio.

-João Ferreira Pinto de Souza: *1835, morreu no Uruguai.
-Maria Francisca Duarte. Pais de Ignez.

-Vicente Paulo de Farias.
-Floriana Maria de Oliveira. Pais de Adriano Eudóxio.
-Ignácio Antônio de Oliveira: morreu em Piratini.
-Joseffa Pereira de Oliveira: morreu em 1918, em Piratini. Pais de Universina Elena.

-Pedro Bonotto: *Itália.
-Ângela Bonotto:*Itália.
Sétima Geração: Pentavós:
-Juan Crespo:*1790, na Ilha de Lançarote, Ilhas Canárias, morreu em 1840, em Piratini.
-Gabriela Joseffa Robaina Crespo: *1790, na Ilha de Lançarote. Pais de André Lucianno.

-Francisco da Conceição: *Ilhas Canárias, morreu no Brasil.
-Manoela da Silva Conceição: *Ilhas Canárias. Pais de Francisca.

-João Ignácio Feliciano: *Açores.
-Angélica Silveira d’Ávila: *Açores. Pais de Graciano Ignácio.

-José da Rosa Pinheiro: *Ilha do Faial, Açores, Portugal. Morreu no Brasil.
-Anna Joaquina Correia da Silva: Pais de Maria Francisca.

-João Ferreira Pinto: *Portugal.
-Jacinta Dias de Castro: *1810, em Piratini, morreu em 1889, em Mataolho, Uruguai. Pais de João.

-Francisco Duarte da Silva.
-Maria Antônia Duarte: *1810, em Piratini. Pais de Maria Francisca.

-Antônio da Rosa Faria: *1811, em Piratini.
-Margarida Maria dos Santos. Pais de Vicente.

-Lúcio Antônio de Oliveira.
-Silvana Maria Soares de Oliveira. Pais de Floriana Maria e de Ignácio Antônio.
Oitava Geração: Heptavós:
-Ambrósio Gabino Crespo: *1770, na Ilha de Lançarote.
-Margarida Ramosna Crespo: *1770, na Ilha de Lançarote. Pais de Juan.
-Feliciano José: *Açores.
-Catarina Rosa: *Açores. Pais de João Ignácio.

-José Silveira d’Ávila: *Açores.
-Ana Rosa:* Açores. Pais de Angélica.

-José da Rosa: *Ilha do Faial.
-Catarina Rosa da Silveira: *Ilha do Faial. Pais de José.

-Manoel Francisco Vicente: *Ilha do Faial.
-Maria Rosa: *Ilha do Faial. Pais de Anna Joaquina.

-José Pinto Ferreira: *Portugal.
-Maria das Neves Pereira: *Portugal. Pais de João.

-Bernardo Dias de Castro: *1789, em Portugal, morreu em 1822, em Piratini.
-Isabel Pereira Chaves: *Viamão, Rio Grande do Sul. Pais de Jacinta.

-Alexandre Duarte de Faria.
-Maurícia Correia da Silva: *Piratini. Pais de Francisco.

-Antônio Duarte de Faria.
-Rosa Francisca de Faria. Pais de Maria Antônia.

-Antônio de Faria Rosa: *Ilha do Faial.
-Maria Dutra: *1789, natural de San Carlos de Maldonado, Uruguai. Pais de Antônio.
Nona Geração: Septavós:
-Manoel Duarte de Faria: *São Mateus da Ribeirinha, Ilha do Faial.
-Francisca Rosa:*Ilha do Faial. Pais de Alexandre Duarte de Faria e Antônio Duarte de Faria.

-Joaquim Correia da Silva: *Lapa, Paraná.
-Rosa Maria de Jesus Faria: *Ilha do Faial. Pais de Maurícia.

-Manuel de Faria Alvernaz: *Ilha do Faial, morreu em Piratini.
-Rosa Francisca: *Ilha do Faial, e morreu em 1826, em Piratini. Pais de Rosa Francisca.

-Domingos de Faria Alvernaz: * 22-12-1731, em Cedros, Horta, Ilha do Faial, morreu em 1822 em Piratini.
-Mariana Rosa de São José: *27-03-1732, em Salão, Horta, e morreu em 1822, em Piratini. Pais de Antônio.

-Manuel Dutra Caldeira: *Urzelina, Velas, Ilha de São Jorge, Açores.
-Isabel Maria Vieira: *Urzelina. Pais de Maria.
Décima Geração: Optanavós:
-Manuel Correia da Silva: *Cascais, em Portugal.
-Anna Pereira da Silva: *21-09-1733, em Curitiba. Morreu em31-10-1780m em Lapa. Pais de Joaquim.

-Domingos de Faria Alvernaz
- Mariana Rosa de São José. Pais de Rosa Maria de Jesus. (São meus septavós e optavós).

-João Silveira d’Ávila:
-Anna Maria de Jesus: Pais de José.

-João Pereira:
-Izabel Rosa: Pais de Ana Rosa.

-Manuel Gomes de Medeiros:
-Maria Rosa: Pais de José.

-Domingos Jorge de Faria Alvernaz:
-Anna Maria D’Ávila: Pais de Manuel e Domingos.

-José Dias de Castro:
-Lauriana Joaquina Pereira: Pais de Izabel.
Décima Primeira Geração: Nonavós:

-João Furtado:
-Ágada Rosa: Pais de Isabel Rosa.

-João d’Ávila:
-Maria Silveira: Pais de João.

-Gervásio Pereira:
-Maria Alves Pereira: Pais de João.

-Manoel Vieira Mercador:
-Marianna Theresa de Santo Antônio:  Pais de Laurianna.

-Amaro Alvernáz (Amaro era filho de Sebastião Alvernáz, o Velho e de Maria da Almança; Neto paterno de João Martins e de Águeda Alvernáz).
-Francisca Vieira: Pais de Domingos Jorge.

-Francisco Fernandes. ( Francisco era filho de Antônio Alvernáz e Maria Fernandes).
-Maria d’Ávila: Pais de Anna Maria.

-Domingos Carrasco: morto em 1749.
-Maria Carrasco: morta em 1749. Pias de Manuel Correia.

-Manuel Garcia Nunes.
-Francisca Rosa de São José. Pais de Mariana Rosa.
...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Um punhado de lembranças.

Afogar-me em lembranças foi o que me restou.
Desde que tu se foi.
E a solidão ao meu lado se apresentou.

Emergimos os dois daquele poço de lama.
Tu sobreviveste ileso a isso.
Por mim nenhuma lágrima derrama,
Já eu,
Bem, eu
Rios de lágrimas choro.

Voou pelos ares, bela ave,
E eu resumido a pó no chão fiquei.
Tu nem sabe, que desejo tanto que voltes aqui e me salve.

Soltastes minha mão,
Depois de me ensinar a ser eu.
Um eu que nem eu desconfiava existir.
Retirou de meu rosto espesso véu.
E eu me virei no que agora sou.
No começo cabalei,
Depois pude meio que firme, adiante seguir.

Há horas que olho para trás e lembro-me de ti, e de tudo que vivemos.
De minhas ilusões sobre te amar.
Das boas horas que contigo passei, depois que nos conhecemos.
Tudo isso, serve hoje para somente eu recordar.

-Pinheiro, Erasmo.

Piratini, 07 de Outubro de 2013.

sábado, 5 de outubro de 2013

Diário 2.

Camaquã, 23 de Outubro de 1838.
As gotas da chuva já não molham meus lábios como antes. Se bem que sempre tive receio de sair na chuva. Sempre me acomodei com o que as vontades ao meu redor desejavam.
Segui pela rua. Precisava seguir.
Antes de seguir diante, um pequeno parêntese: As pessoas julgam sempre um livro pela capa. Moça rica e cheia de beleza, tão feliz...
Retomando o assunto do inicio, seguia eu pela rua. Voltei para dentro da casa da minha tia. Ninguém quis tocar piano hoje, e isso é bem ruim. Há dias que escutar música é um dos únicos prazeres que tenho. Sim música. Tão bom poder ter as minhas músicas e mergulhar num mundo só meu. Onde eu posso ser quem eu quiser ter todos que quero ter. É fantasioso, mas pelo menos é onde tudo é perfeito, onde as melodias da música embalam meu viver.
Seguem os dias, eles nublados, chuvosos, ensolarados, seguimos sempre. Seguem. Sigo eu escutando música.
De um assunto emendo noutro. Sempre faço assim. Sempre. Nem eu consigo me entender por vezes. É como se eu fosse expectadorade minha própria vida.
Chove garoa e logo abre Sol. Aqueles raios de Sol, que nascem nos meio das nuvens no céu e veem ilumina os campos.
Sigo em frente.
Passamos, gastamos muito tempo de nossa vida preocupados com o que os outros vão dizer ou falar a nosso respeito. Deixamos de viver por medo de nós mesmos, de não sermos suficientemente bons para com nós mesmos. Nada vai recuperar o tempo perdido, este tempo que vivemos para os outros e não para nós mesmos. Vivemos maquiados, mascarados, sorrindo falsamente para os outros. Ou até mesmo segurando lágrimas que teimam em nos ocorrer nos olhos. O tempo só segue cada vez mais rápido.
Os últimos dias têm sido bastante diferentes. Foram três noites seguidas que eu sonhei com ele. Dizem que os sonhos são os grandes anseios da gente, que de tanto pensar ou desejar acabam entrando em nosso subconsciente. O ruim de sonhar é perceber que é tudo ilusório.
Bem, bem. Fora tudo isso, já se vão três anos desde que os Farrapos invadiram Porto Alegre, e já se fala que a Província se tornou uma República. Os homens desta família, empolgados com este clarim de liberdade dos desmandos do Império, encilharam seus cavalos e se juntaram as tropas de Bento Gonçalves. Nesta terra, ficar em casa em tempo de Guerra é coisa pra mulheres e crianças. Inda sorte é que a família dele não se envolveu nessa peleia, porém estão de mudança pro Uruguai, onde há paz. Isto será uma despedida minha dele.
Bueno, quando esta função de Guerra se terminar, fico só imaginando o povo do Rio Grande, que terá de reerguer esta Província sacudida pela derrama de sangue que se fez nos últimos anos. O que farei eu daqui pra frente? Talvez nada de diferente do que fiz até agora. Sendo que no ano que viemos pra estância de minha tia, prometi que só casar-me-ia depois que o Rio Grande estivesse em paz.
Pois prometi a minha mãe, e agora terei de cumprir? Não posso trair-me. Não conseguirei me casar com nenhum outro homem que não seja ele. Não consigo. Não posso!
Por falar, mais uma vez nele, a última vez que o vi, foi num sarau, em comemoração ao casamento duma prima distante, que teve na vila. Ah como estava belo! Como sempre, com aquele sorriso tímido, com aquele jeito tão doce. E eu burra que só, ao invés de ir conversar com ele me acanhei num canto perto das outras moças. Falamos muito pouco, e mais uma vez eu sempre que podia me fazia de dura e indiferente. Não sei o porquê faço isso, mas faço. Tento disfarçar ao máximo que posso todo o amor que sinto por ele. Se eu demonstrar isso, talvez seja pior para mim. Então irei guardar isso dentro de mim, como algo que me mantem viva.

Sigo em frente, sempre em frente...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Entardecer.

Sol vai ao despacito, fugindo pra detrás das coxilhas,
Rumando para o desconhecido.
Escurecendo do Pampa, as velhas flechilhas,
No horizonte um cenário tão colorido,
Que me hipnotiza
E fascina.

Revoadas de pássaros,
Entoados em um balé celestial,
Navegam pela imensidão dos céus, como velhos corsários.

Como tentar entender as coisas do mundo,
Se não conseguimos entender o que se passa dentro de nosso peito?
Melhor do que falar, creio que é ficar pelo menos agora, taciturno.
E seguir desse jeito...

Segue o entardecer se apresentando pelo fim do dia,
Alimentando minha desiludida alma,
Com esta doce sinfonia.


-Pinheiro, Erasmo; Piratini, 30 de Setembro de 2013.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Diário.

Pelotas, primavera de 1902.
A luz do Sol, nem ao menos adentrou pelas janelas do sobrado hoje.
Choveu incessantemente, desde manhã. Grossas gotas de chuva, que poderiam lavar-me a alma. Mas não, as gotas nem se quer perto de mim chegaram.
Para mim foi um dia igual ao outros todos. Trancada dentro do quarto, se fazer mais que existir.
Por única novidade, diário, vos conto que ontem a primavera voltou ao Rio Grande. Ah primavera! Com suas auroras perfumadas ao jasmim e o bem-me-quer! Ah se ao menos eu pudesse voltar ao campo e encher meus pulmões com o perfume das flores silvestres.
Por pouco não me distraio, com estes meus anseios, que perante minha condição física, se fazem impossíveis. Coisas que as pessoas que moram por ai, não dão importância, mas que eu, velha e sem forças daria um dos poucos dias desta minha vida, que me restam para poder sair por ai e apreciar.
O campo, a estância, as lembranças que lá guardam. Os seus fantasmas de épocas passadas, que rondam a casa grande. Não foi uma época feliz aquela, havia guerra. Havia a derrama de sangue pelo Pampa. Eu tive que ficar trancafiada naquela casa, junto das outras. Foram dez anos, que para mim, por vezes passavam num piscar de olhos. Noutros, depois do amargor da desilusão, foram se arrastando, e arrastando, até os dias de hoje. Virei um fantasma, que vaga por este quarto, arrastando correntes pesadas, batendo grilhões do tempo.
Bueno. Isso ficou num passado distante. Junto das doces lembranças do meu amor. Junto de minha juventude. De todas as moças da família, eu uma das mais velhas, sou a única ainda viva. Viva? Viva ou encarcerada neste quarto, que mais parece um mausoléu? Poderia eu, ter me casado com aquele primo com que minha mãe tanto queria. Sim, guardado dentro de mim aquele amor e ter feito como todas as outras, seguido os moldes que os nossos pais queriam. Ter me casado, por casar afirmo, ter sido uma esposa que nem as outras todas, ser mãe, cuidar do lar, e esperar meu marido voltar das revoluções e guerras, volta e meia assolavam a Província. Poderia. Mas não o fiz. Fiquei solteirona. Quando a Revolução terminou em 1845, tive de deixar a estância e voltar para Pelotas. Minha mãe me martirizou e olhou-me com desgosto até o fim de seus dias. Ela teve apenas a mim de filha que ficou solteirona. Os meus irmãos e minhas irmãs fizeram a vontade de meus pais, consorciaram-se com cônjuges de escolha deles. Moças e rapazes de famílias de boa índole e de terra de baixo da sola dos pés.
Meu pai era mais flexível que minha mãe. Sabia que seus filhos tinham sentimentos. E sempre perguntava á nos se era também de nosso gosto se casar com quem era a nos escolhido. Isso fazia com que minha mãe dissesse que ele nos dava ousadia demais. Ou como ela mesma falava “Vosmecês não tem de querer, tem é de casar com quem os mais velhos decidissem.”  E assim era. E ficou pior depois que só o cavalo de meu pai voltou da Revolução, lá pelos idos de 1843. Coube a ela cuidar de nosso encaminhamento na vida. De mim e das outras duas filhas e um filho que ainda não tinham se casado. E uma filha sua, membro de uma das famílias mais tradicionais, era algo impensável de sair pelo mundo com um aventureiro, sem eira nem beira. Fiquei dias trancafiados no quarto até que ela julgasse que havia passado aquela insanidade.
Na verdade essa “insanidade”, nunca passou. Ainda espero, e só deixarei de esperar a volta de meu amado, no dia que meu coração parar de bater. Isso, talvez se dê, por essa primavera, ou talvez no verão, outono e até mesmo no amargo inverno. Nunca sabemos quando iremos partir deste mundo de gente sofredora e má. Nunca. Ainda sou insana, madre...
Bueno. Después o verão é uma estação calorosa, porém a mim tanto faz. E logo volta o outono. E por fim o inverno.
Sempre foi assim sempre será um dia após o outro. Não importa se estamos felizes ou reduzidos a pó. Eles sempre se renovam. Sempre...

sábado, 21 de setembro de 2013

Uma Guerra só Minha.

O que falar acerca da mornidão da vida?
O mesmo fantasma maltrapilho
Que pela frente de meus olhos todo dia desfila?

Nada muda
Todo dia a mesma lamúria
Só campeio as mesmas tristezas que aos meus olhos,
Despejam ifinita penúria,

De felicidade
Sem nenhuma ajuda.

Laivos de alegria teimam vez que outra,
Subir ao palco da minha vida
Como uma provocação pelo ar solta.

Esmago meu coração,
Dilacero-o
Sem dó nem compaixão
Por mim mesmo.
Prostrando-me sobre restos de um sentimento
Que já quase morto, adormecido e enfermo,
No leito do tempo.

Deste leito, ao seu lado, talvez tenha eu,
Acompanhar-lhe ate o meu,
Fim,
Terei de ficar.
Ele bem que poderia,
Sucumbir a mim,
Ou eu á ele.
Daria uma nota se pudesse,
Para ver, onde esta guerra só minha,
Chegaria.

Pinheiro, Erasmo. 

-Piratini, 21 de Setembro de 2013.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A Noiva de Garibaldi II

A esta altura, as forças Farroupilhas estavam em desvantagem na Revolução.
De pouco e pouco tempo, era trocada de lugar a capital da República, que a cada dia entrava em mais decadência.
Garibaldi agora tinha uma família, composta por ele, Anita, e o filho que ela esperava este nascido em 1840, na vila de São Simão, atual Mostardas.
O pequeno rebento do casal foi nomeado como Menotti.
Agora, mais do que nunca Garibaldi e Anita estavam unidos, por um filho. Uma família.
Francisco Pedro de Abreu, o Chico Moringue, tinha sede de vingança de Garibaldi, desde o ataque das forças deste ao estaleiro dos Farroupilhas, situados na Estância da Barra, no qual Chico Pedro foi atingido por um tiro disparado por Garibaldi, tendo este lhe comprometido os movimentos do braço atingido. O plano do oficial Imperial era de acabar com a pequena família do corsário italiano.
Anita ainda se recuperava do parto do filho quando o acampamento foi atacado e muitos dos soldados que acompanhavam os mesmos foram mortos no ataque de surpresa. Garibaldi estava longe dali, recrutando peões das estâncias da região para juntarem-se as tropas farroupilhas, quando foi feito o ataque. Foi nesse episódio que aconteceu um dos momentos mais lembrados da coragem de Anita, que ainda sobre fortes dores, amarrou um lenço em seu peito, enrolou seu filho, recém-nascido, montou a cavalo e fugiu pela mata que circundava o acampamento farroupilha, conseguindo salvar a sua vida e de seu filho Menotti.
Ao chegar no local onde era o acampamento Garibaldi se desesperou ao não encontrar sua amada e seu filho. Porém alguns soldados que haviam sobrevivido lhe explicaram que ela havia fugido a cavalo com seu filho.
Longe dali, na Estância da Barra, Manuela ainda nutria a esperança da volta de Garibaldi, mesmo sabendo de Anita. Então numa visita de Joaquim, este já incomodado com a insistência de sua prima em esperar Garibaldi, revela a ela que Anita teve um filho com Garibaldi. A primeira reação da moça é de desolamento ao receber esta notícia.
Manoela  só tinha aos seus diários um companheiro para dividir suas tristezas, uma vez que Mariana havia ido morar com Dona Antônia, após sua mãe renegar seu filho com João Gutierrez.
Após Garibaldi ter atravessado a fronteira do Brasil com o Uruguai, para Manuela tanto fazia a qual rumo a Revolução tomava. Seu coração estava encharcado pelo amor que sentia por aquele homem que o roubara e que agora ia embora para nunca mais voltar.
O fim da Revolução se dera em 1845, com o Tratado de Ponche Verde.
Manuela e o que havia restado de sua família voltaram para Pelotas, agora pacificada após o fim da Revolução. Pouco se sabe sobre a vida dela após o fim da Farroupilha. Seguem abaixo anotações em seus diários:
“Pelotas, inverno de 1876.
Volto às minhas páginas; sempre volto. Às vezes, penso em esquecê-las para sempre, remediando-me à condição de velha solteirona que sou, mas creio já que este vício é cousa impossível, e que vai morrer dentro de mim. Quem sabe um dia abrirão minha cova para encontrar os restos do meu cadáver a escrever garatujas invisíveis.
Ah, sei que estou mui tétrica hoje... Há um cheiro de morte no ar. Aqui no Rio Grande, aprendemos a farejá-lo desde sempre, e não o imagine ruim, fedorento, cheiro de carniça. Oh, não! O cheiro de morte, de morte verdadeira de quem ainda não morreu mas que se vai em breve, ah, esse cheiro é doce feito flor velha. É um olor assim nauseabundo, deveras açucarado, que se vai entrando pelas narinas da gente até fazer fundo lá nas carnes, até dar enjôo.
Por isso, fechei as janelas. Para deixar o cheiro lá fora.
Hoje recebi uma carta dando conta de que Inácia, filha de Perpétua, está mui adoentada. Pensei em escrever ao Matias lá na Corte, mas falta-me coragem de chamá-lo ao passado assim à queima-roupa. É por isso que estou aqui, defronte a este caderno.
Se não escrevo a Matias, escrevo aqui. Mas é preciso escrever alguma cousa.
Da última vez que aqui estive, eu contava de Maria Angélica e seus amores. Creio que escrevi de José, que, se não era assim belo, tinha lá os seus brios, e andava a fazer a corte à filha do general. Eram primos numa família em que os primos casavam entre si, o que é grande sorte.
Tudo isso era no fim daquele ano de 1848...
Andava a sombra da guerra a flanar sobre as cabeças dos rio-grandenses, e Moringue (aquele perverso cabeçudo que um dia quase matou meu Giuseppe, mas que por ele foi ferido, ah, e sentiu, o detestável, o gosto do seu próprio sangue); sim, o velho Moringue andava aprontando das suas, atacando estâncias de uruguaios, sob a desculpa de que esses eram inimigos dos brasileiros da fronteira. Ia lá o governo blanco praticando das suas contra brasileiros residentes no Uruguai, e os ataques do tal Chico Pedro, o Moringue, só fizeram apoquentar ainda mais os ânimos. Naquele tempo, a cidade de Montevidéu, cidade que durante tantos anos acolhera meu Giuseppe, vivia um cerco prolongado. Dizia-se que era um sofrimento. E o governo brasileiro resolveu interceder na situação - o Império temia mesmo era uma nova revolta do Rio Grande para que nos uníssemos aos colorados; mas foi cousa fácil dizer que todo o país ia lutar contra os blancos, que eram aliados do argentino Rosas. Rosas, o grande fantasma daqueles anos. Tão temível, tão temido; deveras não passou de um tolo, que na última hora se safou com as calças na mão para Londres.
Creio que foi por esse tempo que Joaquim conheceu Josefina Azambuja, cujo pai, um comerciante, fazia negócios com sua família. A moça deve ter-se enamorado de Joaquim, que era mui galante e tinha grande fama de ser imune aos laços do casamento, por culpa - meu Deus -, por culpa minha! Pois o que é do gosto regala a vida: a tal Josefina deu-se de amar aquele hombre tristonho, bonito, tão dedicado à família, e tanto fez que ambos se casaram alguns anos depois, tendo vencido um longo noivado.
Também naquele tempo foi que Maria Angélica aceitou unir-se em bodas com o primo; aquele velho amor, recordável apenas sob as cobertas da cama, cicatrizara. Foi então que, aqui neste quarto, me pus a costurar o meu vestido de noiva. Havia tantos casamentos na família! Nada mais justo que eu, pobrezita, preparasse as minhas bodas, mesmo com o suposto noivo ausente, carregando pela Europa uma penca de filhos e uma tropa de soldados.
Mandei comprar cetim branco e pus-me então a costurar o mais demorado vestido que jamais se fez nesta terra. Eu era a Penélope esperando Ulisses, e a cada dia dava um ponto ou dois no meu trabalho. Ficou bom, certamente. Levou mais de dois anos para estar feito como eu queria. Ainda hoje, vinte e seis anos después, ainda o uso todas as noites.
Lembro de uma certa tarde em que eu estava a fazer nele um bordado e alguém tocou à porta. Era minha mãe. Andava já muito doente dos pulmões, e triste, posto que seu filho mais amado, o único varão que suas carnes lhe deram, estava para casar e ir viver no campo.
- Me disseram que vosmecê comprou seda branca. É para quê?
Ninguém jamais há de imaginá-la parada à porta, com seu rosto encovado, os olhos duros, a mirar-me com desgosto.
- É para um vestido - eu lhe disse.
- Para o casamento de Antônio?
- Não, para o meu mesmo.
Ela não se deu ao trabalho de pronunciar aquele nome que lhe era tão odioso. O nome de Giuseppe. Apenas sorriu com escárnio:
- Vosmecê está louca. A segunda das minhas filhas. Louca, louca. Isto só pode ser uma punição.
E saiu para o corredor batendo as botinas no chão.
É verdade, madre, a senhora teve duas filhas loucas, uma outra que morreu moça e um varão que morreu na Guerra do Paraguai. Não foi realmente um desfecho digno dos seus sonhos.
Aqui, quase me desconcentro! A criada faz barulho lá embaixo, trancando as portas da casa. Mas que ladrão haverá de entrar neste velho sobrado sem riquezas? Levar-me-ão quais jóias, que dinheiros? Mas não vou descer os dez degraus até a sala, não vou me erguer da cadeira. Há de ter os seus divertimentos, a pobre criada. Este pequeno caderninho é o meu...
Bueno, onde eu estava mesmo? Eram os idos de 1850, e o menino Matias crescia vigorosamente, a ponto de D. Antônia mandar trazer de Porto Alegre um professor que lhe ensinasse as cousas da vida. D. Antônia queria ver o menino virar doutor. Queria-o longe do destino desta terra de homens que morrem cedo; queria-o na estância, talvez com um consultório na cidade. E pôs o menino a estudar.
Vi-o uma vez naquele tempo. Acabava de sair do escritório, caminhava atrás do professor, pois tinham terminado uma lição de álgebra. Vinha sorrindo, lépido. Custava-lhe ficar duas horas numa cadeira, a mente pousada nas páginas do caderno; ele queria o pampa, queria o Rio Camaquã, queria o estaleiro. Eu estava lá para ver D. Antônia. Quando Matias me olhou, abriu um sorriso:
- Manuela!
E atirou-se nos meus braços. Era um bichinho. Era um boneco morno e macio. Por um momento, eu quis ter um filho. Mas o gosto se perdeu no instante seguinte - não se pode retroceder nos caminhos desta vida.
Inácio morreu em dezembro de 1850. Lembro-me dele. Era um homem forte. Morreu num sopro, como uma vela que se apaga. Jamais se queixara de dores, mas certa noite, no meio de uma madrugada quente, soltou um único grito, e enquanto Perpétua tratava de acender uma luz, ele desaparecia para sempre deste mundo, deixando a mulher sozinha na vida, com as quatro filhas pequenas por criar.
Perpétua não estava preparada para a morte do esposo - nem todas as mulheres desta estirpe são de pedra. Algumas vergam-se. Rosário, Mariana, Perpétua... Perpétua quase se deixou ir, mas buscou em si alguma força, tinha aquelas quatro raparigas na barra da sua saia, e después de longos dias de apatia e choro, fez as malas, deixou o Salso e as lembranças para trás e foi com suas crias viver uns meses com Caetana, lá no Cristal. Creio haver sido isso que a salvou, este voltar-se para fora, para o mundo, fugindo de afogar-se nos seus próprios rios interiores.
Desfiado o ano de 1850 (quão pouco há para se dizer da vida, enfim!, tudo, tudo, morte e alegria, resume-se numas poucas linhas num caderno...), chego à nebulosa guerra contra o ditador Rosas, que desembestou a acontecer lá pelos idos de 51.
Contaram naquele tempo que o general Antônio Netto voltara ao Rio Grande para arregimentar homens para a sua Brigada de Voluntários Rio-grandenses, e com ele partiram Bentinho, Leão, Marco Antônio e Caetano. Joaquim deixou-se ficar, noivando placidamente: estava cansado de guerras, de sangue e de desilusões políticas. Os outros filhos hombres de Caetana botaram o pé no mundo, promovendo outra vez o altar cheio de velas, e a viúva do general ajoelhada em frente à santa, a rezar, a rezar.
A luta sucedeu fora das fronteiras do Rio Grande, mas por aqui havia muito medo do tal Rosas. A guerra é uma doença que deixa cicatrizes; voltaram as igrejas a botar fiéis pelo ladrão, era só Deus a segurar o tal demônio argentino que, diziam, planejava invadir o Rio Grande. Foi uma alegria quando correu a notícia de que Urquiza, governador de Entre-Rios, se unira aos brasileiros na luta contra Rosas.
Lembro pouco daquela guerra de conversas de comadres - por aqui não sucedia nada, e os jornais traziam nota de que Caxias marchava para destruir o perigoso ditador. Foi uma guerra que só fez vento, segundo a definição de D. Antônia.

Enquanto os hombres iam outra vez para a peleja, passava a vida por estas lonjuras. Antônio, meu irmão, casou e foi-se embora para sempre (bendita seja a sua sabedoria de abandonar este teto maldito); um mês depois, minha mãe morreu de um mal pulmonar. Vinha já muito malita, nem dizia mais seus venenos contra mim, ficava somente na cama, à espera das visitas do médico e dos cuidados da criada.”