sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Diário de Manuela, 01.

Pelotas, 23 de setembro de 1902.

Hoje está um lindo dia. Um dia onde o cantar dos pássaros, faz morada nas luzes imanadas pelos raios do Sol. Ah suave canto.
Hoje, tudo foi como sempre foi, ocorrendo da maneira mais natural possível, a mim.
Um pensamento me assaltou pela manhã, pouca antes de levantar-me da cama. Um desses pensamentos que surgem do nada e vai se desenrolando pelo infinito da minha mente velha e cansada.  Fui, e sou uma completa louca, como atestam os meninos que passam por aqui, todas as manhãs. Sim uma louca! Ninguém em pleno gozo de suas faculdades mentais espera quase 60 anos por um homem que sabe que já morto, seria impossível de retornar aos seus braços.  Canso-me de repetir para mim mesma que aquele romance já passou. Porém, há algo dentro de mim, como uma chama que teima em continuar acessa, não me deixa pensar em desistir. Mas desistir do quê?
A vida, para mim não seguiu seu curso normal. Não culpa da própria vida, mas minha, só minha.
Sempre cultivei dentro de mim essa esperança, de que um dia ele voltaria para os meus braços, e sorriria e sua doce voz diária: Eu voltei Manuela! Com o passar do tempo, sua imagem, sua voz, foram sendo encobertas por a cerração do tempo. Todas as noites, quando fechava os olhos, eu os exprimia, para que de certa forma, conseguisse segurar dentro de mim aquelas lembranças.  Os anos foram passando e a sua imagem ia se distanciado como um trem num túnel, indo de modo reverso, sumindo para nem eu sei onde. 
E assim eu passo os meus dias, esperando que a morte me leve daqui. Lembrando-me dessas coisas, que me fizeram um dia, sentir-me viva.  Hoje em dia, nem vivo mais. Apenas existo. 

Às vezes me representa que as pessoas pensam o mesmo, que á muito estou morta. Se eu fosse parar e analisar, já faz cinco anos que ninguém vem me visitar. A última viva alma que entrou aqui perguntando por mim, foi um neto de Mariana, depois disso, nunca mais voltou. Trouxe-me notícias dos últimos parentes vivos que ainda moram por Camaquã. Como eu não tinha muito assunto, o rapaz logo se foi. A quem interessaria essas minhas histórias sovadas pelo tempo?  Contar a quem os causos da Revolução, das façanhas de Bento, e Garibaldi? Já quem ninguém se interessa, conto ao meu diário, meu velho companheiro de longa data. Ele nunca se cansará de me escutar, e nem eu, de á ele confidenciar tudo...

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