segunda-feira, 27 de maio de 2013

O anel e a carta

Era inverno, isso eu lembro, o ano era 2012.
Não me lembro do diálogo inteiro, mas lá vai:
-Gostei de seus anéis.
-Pois é.
-Você me dá um deles?
Não disse nenhuma palavra, apenas tirou de um de seus dedos, um daqueles anéis e me deu.
Tinha tantos deles. Acho que eram mais de cinco.
Levei pra casa aquele anel, que mal cabia no meu dedo.
Dias depois, ela me pediu para trocar por outro, por que aquele, por algum motivo que eu não lembro agora ela não podia dar.
Trocamos de anel, ele me deu outro.
Levei pra casa e guardei dentro de um pote, junto com umas coisas velhas.
Ia ser o único bem material que me lembrasse dela.
Dentro de alguns meses ela iria embora, e eu ia ficar.
Perguntei o que ela preferia: uma carta ou um anel novo. Preferiu a carta.
A cada palavra que eu escrevia naquela folha de caderno, era como um corte que era dado em meu coração.
Ela se foi, numa tarde de verão. Todos ficaram aos prantos. Menos eu. Sentia-me tenaz naquele momento. Não esboçava nenhuma reação. Por dias um nó maldito apertou minha garganta. Mas segui a vida.
Alguns dias depois eu descobri que a carta não tinha ido.
Esqueci-me da carta, mas não dela.
Passaram-se os dias, meses, a vida foi seguindo.
Um dia a carta chegou.
Não tive coragem de perguntar diretamente para ela o que ela havia achado da carta.
Mas por meio de outra pessoa eu soube o que ela havia achado da carta: dramatização...
Nunca fui tão sincero em toda minha vida. Mas acho que minhas palavras valem menos que nada.
Um dia tu carta, vais te transformar em pó, mas tu anel vai durar mais tempo, é feito de aço.
Talvez o amor seja feito de aço também.
Mas o aço, com o tempo gasta, enferruja, vai se despedaçando.

Espero que esse sentimento, tenha o mesmo fim que a carta...
Papéis apodrecem, sentimentos, palavras não, ficam para sempre na memória de que as ouviu.

3 comentários:

  1. Isso mesmo amigo, tem que desabafar, a escrita é uma (senão a melhor) das nossas melhores aliadas quando vem o sofrimento. Muito bom o texto! Abraço!

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  2. Realmente amigo, é uma ótima aliada.Muito obrigado!!!!

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  3. Toca-me que vejas os sentimentos desta forma. É bonito, ingênuo e puro. Esperava que este texto não passasse de ficção e que não sentisses o que escreve. Se ameniza tua dor eu digo: - Todos os cortes do teu coração fizeram-se em mim. Cada palavra da dita carta foi um punhado de cicatrizes na minha alma e em meus sentimentos. Quero que entendas que tuas palavras valem muito, mas não apenas as que exaltam e enternecem, tanto quanto essas as que magoam e oprimem também tocam (e matam!).

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