domingo, 24 de fevereiro de 2013

A noiva de Garibaldi, parte 1

Manuela Amália Ferreira, fotografia do século XIX.

                                           
“E coube somente a min, contar essa história pontuada de heróis, da qual eu vivi desde início e soube esperar até o fim, aquecida por minha grande paixão por Garibaldi”
-Manuela Amália Ferreira

Nascida em Pelotas em 08 de julho de 1820, Manuela Amália Ferreira, passou a história conhecida como a “Noiva de Garibaldi”.
Filha de Francisco de Paula Ferreira e de Dona Maria Manuela de Meireles, sendo esta sobrinha de Perpétua da Costa Meireles, mãe do General Bento Gonçalves da Silva, futuro presidente da República Rio-Grandense.
Seu registro de batismo data de 20 de agosto de 1820, no Bispado de Pelotas.
Manuela viveu na companhia de seus pais e seus três irmãos em Pelotas até meados de 1835, quando sua família se envolveu num dos fatos históricos mais convulsivos desta terra: A Revolução Farroupilha.
Seus pais assim como a maioria da população da época acabaram ficando do lado dos Farroupilhas.
Partiram para tomar Porto Alegre, então capital da Província, que estava descontente com a situação econômica que se encontrava. O preço do charque produzido nas charqueadas era bem menor que o charque produzido no Uruguai e outros países, onde ao entrar no Brasil, pagava baixíssimos impostos, bem mais baixos que os que os do Rio Grande do Sul pagavam.
Em 20 de Setembro de 1835, liderados por Bento Gonçalves e Onofre Pires, os revoltosos invadiram Porto Alegre e depuseram o Presidente da Província, Antônio Rodrigues Braga, que foi obrigado a deixar o poder e fugir de barco até Rio Grande, no sul da Província.
Manuela, suas irmãs, sua mãe, Dona Cayetanna, e seus filhos estavam morando juntas em Pelotas, e ao saberem do início da Revolução, decidiram fugir de Pelotas, uma vez que a cidade se manteve fiel ao Império durante toda Revolução.
O lugar escolhido para refugiarem-se foi a Estância da Barra, de propriedade de Dona Anna Joaquina Gonçalves da Silva, irmã do General, ás margens do Rio Camaquã, sendo um local de difícil acesso.
Viveram todas em total isolamento durante a Revolução, sabendo do que se passava somente por meio de cartas, mascates que pernoitava na Estância, ou quando seus parentes vinham até a propriedade.
Em 11 de setembro de 1836, é proclamada a “República Rio-Grandense”, sendo sua primeira capital a cidade de Piratini.
Na noite de 3 de outubro de 1836, os Farroupilhas decidiram voltar até o sul, mas graças a traição de Bento Manuel Ribeiro, foram surpreendidos da Ilha da Fanfa, provocando a prisão de muitos dos líderes da Revolução tais como Bento Gonçalves, Onofre Pires, Tito Lívio Zambeccari, Pedro Boticário, José de Almeida Corte Real, e José Calvet. Mais de 100 mortos nessa Batalha, sendo que maioria era Farroupilha. O pai de Manuela conseguiu se salvar e com os demais voltaram até Camaquã.
Bento Gonçalves foi mandado até a Prisão de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, onde foi visitado por sues três filhos, Bentinho, Caetano e Joaquim, o prometido á Manuela.
Em sua cela, no Rio de Janeiro, Bento Gonçalves conhece um corsário italiano:
Giuseppe Garibaldi, o qual havia sido exilado na Marselha, na França, após ter se envolvido com a “Carbonária”, a qual era a favor da Unificação Italiana.
Bento concedeu á Garibaldi uma carta de Corso, a qual dava á ele o direito de atacar e prender as embarcações imperiais em águas da República.
Juntamente com seu companheiro, Luiggi Rossetti, vieram para o sul, onde foram encarregados de construir barcos, os quais seriam usados para constituir uma frota para os Farroupilhas.
Antes de chegarem, atacaram um navio austríaco, o “Mazzini”, o qual foi rebatizado de “Farroupilha”.
Garibaldi foi preso em águas uruguaias, sendo transferido preso para a Argentina, e algum tempo depois foi solto.
Manuela sabia que ele estava por vir até seu encontro, segundo ela mesmo escreveu em seus diários.
A partir de abril de 1839, Garibaldi e marinheiros vindos de Montevidéu, estavam dedicados á construção de barcos num estaleiro pouco distante da sede da Estância da Barra, onde os revoltosos foram atacados por Francisco Pedro de Abreu, o “Moringue”, sendo a vitória dos Farroupilhas.
Já no fim da vida, Garibaldi ditou á Alexandre Dumas suas memórias onde cita em uma pequena nota íntima: “Nós celebrávamos a vitória, gozando do fato de termos sido salvos da tempestade. Na sede da estância, á 12 milhas dali, uma virgem empalidecia e rezava pela minha vida; mais doce que a vitória, me surpreendia à notícia. Sim. Belíssima filha do Continente, e eu era orgulhoso e feliz de te pertencer, fosse como fosse. Tu destinada a ser mulher doutro! A min a sorte reservava outra brasileira!”.
A virgem era Manuela...
Ao conhecer Garibaldi, a jovem de 20 anos se apaixonou, sendo só seu, dele e de seus diários o conhecimento desse amor. Esse encontro se deu num baile oferecido por Dona Anna para comemorar as sucessivas vitórias da Frota de Garibaldi, contra a Frota Imperial.
Neste meio tempo, o pai de Manuela morre num confronto com os imperiais, ou os “Caramurus” como eram conhecidos por a população da Província.
O luto se abateu sobre a família de Manuela, e ela sofria em silêncio a dor de não ter o seu amado ao seu lado neste momento.
Os encontros tinham de ser ás escondidas, uma vez que sua mãe era rigorosa na educação das três filhas, além do fato de Manuela estar prometida á Joaquim, o qual ela nutria um amor de irmão.
Além do fato de Manuela estar apaixonada por um homem “Sem eira nem beira”, Rosário, a irmã mais nova de Manuela, estava apaixonada por um fantasma de um soldado uruguaio, que lutava ao lado dos Imperiais.
Ao descobrir de paixão de Manuela por Garibaldi, sua mãe preferiu trancar a filha no quarto para evitar que ela se encontrasse com ele.
Sua mãe estava em dúvidas, pois não queria a filha casada com um aventureiro estrangeiro, e então decidiu deixar a decisão á Bento Gonçalves.
Garibaldi e Manuela continuaram a se mandar poemas e bilhetes por meio de peões da Estância.
Quando Bento voltou á Estância da Barra para rever sua família e ver os barcos que Garibaldi e seus homens haviam construído, Garibaldi se encheu de coragem e decidiu pedir a mão de Manuela ao Presidente.
Seriam dois barcos, o Farroupilha e o Seival, usados para atacar a cidade de Laguna, ne Província de Santa Catarina, onde seria feito um porto marítimo para a República.
Ao saber das intensões do Corsário com a moça, Bento pensou, pensou, mas a negativa veio como algo já esperado pelo italiano. Como uma moça criada para ser mãe, uma moça criada com toda educação, bons costumes, e que mal sabia pegar numa arma poderia acompanhar um guerreiro como Garibaldi numa Batalha?
Mas o amor que ele sentia por ela fez com que ele não contasse sobre o não do Presidente ao seu pedido.
Alguns dias após o ocorrido, Garibaldi mais uma vez tentou o sim do Presidente. Mais uma vez a resposta foi não.
Ao entender os motivos de Bento, Garibaldi teve de se conformar. A única coisa que pediu foi um papel e uma caneta para escrever uma carta para sua amada.
Era a hora de partir. Garibaldi despediu-se de Dona Antônia, a confidente do casal, e de todos as outras senhoras que tão bem lhe acolheram em suas residências.
A última pessoa quem Garibaldi se despediu foi de Manuela. Ela ainda tinham esperanças de que Bento havia aprovado seu namoro com o italiano.
Triste por ter que deixar sua amada para sempre, Garibaldi se despediu de Manuela em frente á estância e apenas deixou uma carta que ele pediu que ela abrisse quando já estivesse longe dali.
Ao ler o que ele havia escrito, seus belíssimos olhos azuis se encheram de lágrimas, mas ela não havia perdido as esperanças de que ele voltaria depois que tomasse Laguna para buscá-la.
Seguiam-se dias e dias de espera, a guerra ia de mau á pior para os Farrapos, e a mãe de Manuela agora achava que suas duas filhas haviam enlouquecido.
Rosário, completamente desequilibrada mata Regente, o cachorro de Manuela com um punhal. Vendo que sua filha oferecia perigo ás demais pessoas da família, trancou sua filha em um convento.
Ao contrário de Rosário, Manuela, vivia o dia trancada em seu quarto, escrevendo ou na beira da janela, esperando seu amado voltar e lhe buscar.
Garibaldi, General Davi Canabarro, John Griggs, Luiggi Rossetti, e alguns peões das estâncias da família Gonçalves da Silva, partiram em meados de junho de 1839, por água onde foram atacados pela de John Grenffel, a serviço do Império, a qual foi  vencida pelos homens de Garibaldi.
Foram navegando pela Laguna dos Patos, até o Rio Capivarí, onde depois, os navios foram levados em cima de lanchões, puxados por cerca de cem juntas de bois, durante cerca de 90 km até chegarem á Lagoa Tomás José, no dia 11 de julho de 1839. No dia 13 de julho de 1839, lançaram-se ao mar, rumo á Laguna.
Na costa de Santa Catarina, na foz do Rio Araranguá, uma tempestade afundou o Farroupilha, no qual estava Garibaldi, que milagrosamente se salvou.
Paralelamente á isso, Joaquim decidi conversar com Manuela e lhe pede sua mão em casamento. Manuela nega-se á casar-se com o primo e diz que irá esperar por Garibaldi para sempre. O primo entristecido e louco de amores pela bela moça, decidi voltar Guerra junto de seu pai.
Ao chegarem a Santa Catarina, os homens que conseguiram sobreviver ao naufrágio do Farroupilha, juntos aos tripulantes do Seival, uniram-se ás tropas do General Davi Canabarro, invadido a cidade pela Lagoa de Garopaba Sul, onde surpreenderam uma brigue-escuna imperial, a “Cometa”, que conseguiu fugir pelo mar.
Garibaldi contava com 32 anos na época da tomada de Laguna. Chegando lá em meados de julho de 1839, a bordo da “Itaparica” Garibaldi observava da longe, com uma luneta as casas em Laguna, quando percebeu um grupo de moças que passeava, mas uma em especial lhe chamou a atenção. Ao chegar em terra firme a procurou, mas não á encontrou.
Tinha perdido a esperança de encontrá-la, quando um habitante local o convidou a ir a sua casa para um café. Garibaldi aceitou e na casa encontrou a jovem que procurava. Assim Garibaldi relata o encontro em suas memórias: "Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'. Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor”
Em 20 de outubro de 1839, Anita decide seguir Garibaldi, deixando para trás seu marido bêbado, que a batia com frequência, subindo a bordo de seu navio para uma expedição militar.
Em Imbituba recebeu o batismo de fogo, quando a expedição corsária foi atacada pela marinha imperial do Brasil. Dias depois, em 15 de novembro, Anita confirma sua coragem sem fim e seu amor heroico a Garibaldi na famosa batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, na qual se expõe a um grande risco de morte, atravessando uma dúzia de vezes a bordo da pequena lancha de combate para trazer munições em meio a uma verdadeira carnificina. Anita também combateu ao lado de Garibaldi em Santa Vitória. Depois passou o Natal de 1839 em Lages.
Era definitivamente o fim do romance de Garibaldi e Manuela.
Lembrava-se de Manuela sim, mas como uma bela recordação, algo intocável em sua memória. Agora tinha ao seu lado Anita, a brava mulher que lhe acompanhava nas batalhas.
Anita morena, da pele macia, amante de noite, soldado de dia, um filho num braço, no outro um fuzil ( trecho da música de Marlene Pastro, Anita Morena)

Ao chegarem a Santa Catarina, os homens que conseguiram sobreviver ao naufrágio do Farroupilha, juntos aos tripulantes do Seival, uniram-se ás tropas do General Davi Canabarro, invadido a cidade pela Lagoa de Garopaba Sul, onde surpreenderam uma brigue-escuna imperial, a “Cometa”, que conseguiu fugir pelo mar.
Vários foram os combates por terra e por mar, até novembro de 1839.
O governo imperial mandara cerca de treze navios, sob o comando do General Andreah e do Almirante Frederico Mariath, mas os homens de Garibaldi, contando apenas com cinco navios, menos equipados, conseguiram furar o bloqueio imperial. Depois de horas de batalha, a superioridade bélica da marinha imperial, se impôs sobre a pequena marinha farroupilha. Era o fim do sonho de um porto marítimo para os Farrapos.
Uma das últimas batalhas em solo catarinense foi a Batalha de Curitibanos, nas qual a cavalaria Farroupilha foi praticamente dizimada, e onde Anita, já ciente de sua gravidez, foi feita prisioneira dos imperiais, e Garibaldi ferido, sendo levado para a cidade de Vacaria, já no Rio Grande do Sul.
Da vida de Manuela se sabe pouco nesse período de 1839-1841, certamente vivia na estância, junto de suas familiares, junto de seus diários, contando sobre a Revolução, e seu desgosto de saber que seu amado havia se unido á Anita, não por casamento, mas pelo amor.
Rosário havia enlouquecido de amores por um oficial caramuru, que havia conhecido em Pelotas, e que havia morrido. Sua mãe a queria confinar em um convento, mas antes que sua mãe pudesse fazer isso, a jovem moça tirou sua própria vida com um punhal, nos fundos da charqueada da estância.
O luto novamente se abateu sobre a família.
Mariana a outra irmã de Manuela, também causava preocupação em Dona Maria Manuela: havia se apaixonado por um índio que era peão na estância. Meses depois veio a notícia de que Mariana estava grávida de João Gutierrez.
Sua mãe então lhe trancou no quarto e planejava lhe dar um chá abortivo, mas uma das criadas da estância percebeu, e avisou Dona Cayetanna, que conseguiu impedir que ela bebesse o chá .... 

13 comentários:

  1. Amo essa historia,como era lindo o amor de Manuela.pena que não teve um final feliz.

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  2. Manuela foi iludida, assim como se iludem todos aqueles que amam de verdade e entregam suas almas por completo ao amor!!

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  3. cade fez mais tenho a certeza q nasci na decada errada....é incrivel essa historia de amor,nem sei expressar o q cinto ai ler...infeliz final...dá uma vontade assim de escrever um final diferente<3

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  4. A história da revolução farropilha me encanta,chego a pensar que vivi tudo aquilo.Sobre Manuela ele amou e acredito que também foi amada,mas a época em que viviam ,ela já era proetida de Joaquim e Garibaldi encontrou o amor em outros braços.Normal,pois a vida continua e o mesmo foi impedido de desposá-la,pelo general Bento e de certa forma ser um andarilho.Na minha opinião Manuela tinha que ter casado e tentado ser feliz não ficar esperando por alguém que não lhe garantiu que viria.A vida sempre segue seu curso e a mesma deveria ter feito o mesmo,talvez assim não teria sofrido tanto.

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  5. Quando leio historias assim, e essa então me emociono muito. pois Manoela viveu um amor puro e verdadeiro. ela amou Garibaldi do jeito mais lindo e doce, e ele também a amou muito, porem a situação não permitiu aquele lindo amor. mas mesmo assim ela tão somente continuou fiel ao seu amor, mesmo ele já casado e com filho. continuou a espera, não casando e nem se abrindo mais para a vida. linda não me canso de ler.

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  6. É maravilhosa história,desse povo tão desbravado e tão valente,mas o destino é realmente implacavél e não poderia ser diferente.

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  7. Amo essa historia, Manuela e Anita cada uma tem o seu valor. Anita a heroína histórica, no entanto a Manuela e a heroína que conta a vida e dos dramas de cada mulher, que ama que espera o amado, o pai, o filho.Que sofre duramente a perda, mas não desiste de sentir.

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  8. Essa história é ótima. Tb sinto que vivi nessa época. Pois qnd leio a respeito do período sinto um sentimento muito grande e um aperto no peito. Quando vou a pelotas tb sinto isso.
    Gostaria de saber mais livros p ler.

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    1. VOCÊ JÁ LEU "A CASA DAS SETE MULHERES"? É ÓTIMO

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  9. Lindo o amor de Manuela por Garibaldi pena que não teve um final feliz... Garibaldi queria uma esposa que lutasse ao lado dele e encontrou Anita!!!!

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  10. PESSOAL
    QUER DIZER QUE ANITA NÃO FOI SEU IDEAL
    FOI O QUE DEU PARA ARRANJAR
    UM QUEBRA GALHO QUE ENGRAVIDOU
    KKKKKK

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  11. OS MITOS VÃO CAINDO
    NADA A VER COM PRECONCEITO
    MAS É SABIDO POR TODOS QUE COM ELE CONVIVERAM
    QUE O PAIXÃO CORTES É INVERTIDO
    ENTÃO IMAGINE
    O SIMBOLO DA TRADIÇÃO GAUCHA
    ACOCA NA MANDIOCA
    A CONFERIR
    QUE ME DISSE CONVIVEU COM ELE NO JULIO DE CASTILHOS
    E NA FACULDADE DE AGRONOMIA
    A CONFERIR

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