Pelotas, 12 de agosto de 1854.
Agora é tarde.
Mas tarde para que? Para viver? Para sair por ai? Para
deixar aquela lágrima carregada de dor, cair sobre a maçã do meu rosto?
Nunca é tão tarde para fazermos as coisas acontecerem.
Desde que aquele olhar guapo se desfez de minha frente, não
vejo beleza alguma nas coisas. Fui abraçada pelo manto da infelicidade.
O céu azul que aquele guapo homem trazia consigo aos dias
meus, foi desfeito, e em seu lugar surgiu um céu negro, carregado com pesadas
nuvens, que choram assim como os olhos meus.
Tornei-me a mais sentimental e sensível de todas as
mulheres, que pode partilhar de todos, o seus sofreres.
Tão moça e tão frágil. Eu, que sempre quis manter a figura
de uma moça forte e culta, que lê poemas e romances, gosta de ouvir as
histórias contadas pelos mais velhos e que sempre tive opinião própria, quando
me vi diante daquele corsário italiano, descobri que toda aquela cultura
adquirida não era nada.
Aos poucos, aquele tempo ao lado de Giuseppe, vão ficando
para trás, como a parte mais bela e sublime de minha vida. Algo sobrenatural,
fictício de tão maravilhosos que foi. Como uma dessas histórias que leio nos
livros, daqueles romances que emocionam as pessoas que os leem.
Mas ele se foi. Era seu destino. Eu só serei uma lembrança
do Continente, que talvez ele leve pro resto da vida. A mim, ele significou
tudo. Um rastro de luz no céu, a gota d’água no deserto.
Guardo dentro de mim aqueles momentos, que por mais que eu
chore, não voltam mais.
Fico por ai, pelos cantos desta casa, relembrando o tempo
que morava no campo. O tempo que morte rondava os homens da minha família e até
mesmo Garibaldi. Rezava ardorosamente, de joelhos em frente ao altar, no
Oratório da estância de tia Ana Joaquina, pedindo proteção aos homens de minha
família, mas pedia mais fortemente, pela vida do corsário. Era o que cabia a
nós mulheres. As mais velhas, rezavam, cuidavam dos jovens, cuidavam de quase
tudo. Nós as moças, ajudávamos no que podíamos, rezávamos, nos preparávamos
para que quando a guerra terminasse, e os nossos prometidos voltassem, nos
cassássemos e cumpríssemos nossos papéis. Não a mim.
Ainda hoje rezo por Garibaldi, onde quer que ele
esteja, peleando, seja por mar ou por terra, sempre será o maior motivo de
todos os meus pensamentos elevados á Deus.
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