“-Como assim meu pai? Mal
conheço este guerreiro Tape?” falou ela com a respiração acelerada.
“- Não quero forçar Imembuí
a nada que ela não queira!” exclamou Acangatú levantando-se do banco onde estava
sentado.
Imembuí olhou profundamente
Anitan no fundo dos olhos, um daqueles olhares que vão à alma. Ainda de pé,
olhou para Acangatú e correu até o lugar onde dormia.
“-Imembuí!” gritou Apacani,
indo atrás da filha.
“-Não sabia que era assim!
Qualquer um vem aqui e pede para casar comigo e você deixa?" disse ela
olhando as imensas nuvens de chuva que vinham do Sul.
“-Não quero casar minha
filha contra a vontade dela, apenas perguntei”, respondeu o cacique.
Vindo por um dos lados da
residência indígena, Yboquitã, olha os dois um ao lado do outro, que ao
perceberem sua presença, olharam-na sem dizer uma única palavra.
“-E o que vão dizer ao Tape?
Mandarem-no ir embora, sem resposta?” indagou Yboquitã.
Apacani virou-se para a
filha, e perguntou: “- Pense bem no que vai fazer, um dia vai precisar
casar-se, e ele por o que eu sei é um bom homem, bom guerreiro, mas é Imembuí
quem sabe!” disse o pai de Imembuí, retirando-se para dentro da habitação.
Sem proferir nenhuma
palavra, Imembuí, entrou na residência de seu pai.
Yboquitã ficou parada á
frente desta, observando os raios que cortavam os céus, e o vento que fazia que
com que as outras índias da aldeia, recolherem-se para suas casas.
Imembuí chegou à porta, onde
em frente se encontrava Acangatú, que ao vê-la, levantou-se, e disse: ”- Não
forço, a bela índia a nada! Apenas vim aqui falar com Apacani, por sentir um
amor muito forte por Imembuí!” falou ele com o olhar mais terno que se pode
imaginar.
“-Aceito sim guerreiro Tape,
prometo casar-me com Acangatú!” disse Imembuí olhando seu futuro marido nos
olhos.
Muito longe dali, umas vinte
léguas, uma mula cai no chão, fatigada pelo intenso calor, já sem forças para
continuar seu caminho até a Colônia do Sacramento, tão longínqua, que ao passo
que o calor aumentava, chegaria umas vinte, trinta no máximo de mulas da tropa.
No comando da tropa ia
Rodrigo, um português que vivia á alguns anos em São Paulo. Vivia todo ano
tropeando as mulas que eram vendidas na Colônia do Sacramento, e com esse
dinheiro pagava um quartinho numa pensão de uma senhora, mas nesse quarto só
era de passagem, pois para ganhar seu sustento, tinha que trabalhar, e ficava
cerca de cinco meses nesse vai e vem entre os domínios portugueses e espanhóis
que mudavam do dia para a noite.
“-Vosmecê não acha que é em
tempo de dar de beber ás mulas e aos cavalos, Rodrigo?”, disse Fernão, um
espanhol, que também ia de tropeiro na tropa de Rodrigo.
“-Logo ali á diante, talvez
vinte léguas tenha um riacho, na beira dos montes, mas temos que tomar cuidado
com os índios que vivem ali” falou o português olhando a paisagem.
A mula que havia desmaiado
morre e é jogada num valo, perto do caminho, e assim seguem seu caminho pelos
estreitos caminhos abertos por os primeiros tropeiros que passaram pela região.
“-Mas vosmecê percebeu que
pelo vento que sopra, e calor insuportável, daqui á pouco irá desabar água dos
céus?”, falou outro tropeiro que vinha mais atrás.
Nisso, um raio corta o céu,
e logo em seguida, um barulho estrondoso fez com que o cavalo de Rodrigo empinasse
com ele em cima.
“-Bem que digo Rodrigo, é
melhor montarmos acampamento, antes que essa tempestade nos pegue!”, falou
Fernão, segurando o chapéu que o vento tentou arrancar da sua cabeça.
Então grossas gotas de chuva
começaram á cair do céu, e o vento, ficou cada vez mais intenso. Os tropeiros
então pegaram seus laços de couro e fizeram uma espécie de mangueira entre
algumas árvores e prenderam as mulas, montando ali no pé de um dos morros.
Fizeram ali barracas improvisadas, com lençóis, mas bem firmes, que talvez
vento algum conseguisse derrubar.
“-Que tipo de arma é está
que vosmeçê leva aí? Uma pistola pelo que eu vejo?”, perguntou Rodrigo
maravilhado pelo brilho que revestia a parte exterior da pistola que Fernão
trazia consigo desde que saíram de São Paulo, amarrada em sua cintura pelo
cinto.
“-Esta é uma pistola alemã,
ganhei ainda quando morava na Espanha, é trabalhada em paderneira, e bronze”,
explicou Fernão já com a arma em mãos.
“-Ah muito bonita mesmo, se
vomeçê quiser trocar por este punhal que eu tenho...” falou Rodrigo tirando da
bainha seu punhal português que trazia desde que desembarcou no Brasil.
Fernão coçou a barba,
levantou-se e voltou seu olhar para o amigo.
“-Me deixe ver seu punhal”,
diz Fernão pegando o punhal e passando sua lâmina cortante em seu dedo
indicador.
Rodrigo levanta-se, abre uma
parte da barraca e olha a chuva caindo e admira a névoa que a chuva cria na
bela paisagem á frente de seu acampamento.
Ao que isso se passava á
algumas léguas da aldeia indígena, Imembuí estava em seu quarto, após ter se
despedido de Acangatú, que pelo fato de ter desabado um temporal muito forte,
decidiu voltar para sua aldeia. Estava ela, de pé escorada numa das portas que
dava de seu quarto para a sala, onde os outros estavam. Pensava em tudo que
havia acontecido, enquanto enrolava seu cabelo nos dedos.
“-Então, Imembuí, ficou
feliz com seu noivo?” pergunta Anitan, quebrando o silêncio que havia ali.
Imembuí desencostou-se da
porta, e foi em direção á porta da frente, onde pôs a mão embaixo da pequena
cascata que se formava do telhado de santa fé que cobria a choupana.
“-Não vai responder á
Anitan, Imembuí?” pergunta Yboquitã passando a mão no belo cabelo de Imembuí.
Novamente se mantém em
silêncio, agora se dirigindo para o quarto. Entra e se deita de bruços na
esteira que usa para dormir. Ali ela adormeceu, em seu sono embalado pelo
adorável barulho da chuva.
Acangatú voltou para sua
aldeia, feliz por ter sido aceito por seu grande amor. O sorriso era evidente
em seus lábios. Era feliz por aquilo.
A chuva ia perdendo força, e
pouco a pouco ia acalmando.
No acampamento improvisado
dos tropeiros, os dois amigos, Fernão e Rodrigo, estão olhando as armas um dos
outro, quando Fernão diz:
“-Acho que agora podemos
seguir até mais adiante, pelo jeito essa chuva de primavera já esta passando!”.
“-Que bom, pelo menos assim
chegamos às Bandas Platinas, mais rápido!”, falou aliviado Rodrigo.
Movido pela sede que secava
sua garganta e boca um dos tropeiros, Miguel, contratados por Rodrigo, decide ir até o riacho
beber água é banhar-se.
Estava ele nadando nas águas
do Itaimbé, quando ouviu o relinchar de cavalos. Sim cavalos ali muito
próximos. Ao ouvir esse som de cavalos, ele rapidamente saiu da água e
vestiu-se. Escondeu-se pelo meio das ramas que haviam por ali, e percebeu que
havia uma aldeia indígena na beira do riacho. Percebeu depois que eram duas,
sim duas aldeias, com cavalos, e belas índias.
Rapidamente atravessou o
riacho, correu até o acampamento, que estava no outro lado do morro, avisar
sobre o que havia descoberto.
“-Rodrigo! Rodrigo!” gritava
ele ao chegar ao acampamento.
“-Fale Miguel, fostes
atacado, o que estas á gritar tanto homem!”, falou Rodrigo já desmontando o
acampamento.
“-Não sabes patrão! Ali
atrás do monte existe uma, digo duas aldeias índias, com cavalos e mulheres! disse
Miguel com seu sorriso malicioso no rosto.
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